quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sangue Frio

Ultimamente, eu vinha reclamando muito do meu curso. Jornalismo é imprevisível, cansativo, não tem rotina, me transpõe para lugares diversos e me faz passar por tantas situações malucas. Esse começo de semestre foi difícil. Faltou grana, eu mal conseguia parar em casa, enfim, quase não me diverti nem cumpri todos os meus horários. Cheguei a pensar em fazer algo mais estável, por que não algum curso da área de saúde?
Mas, sinceramente, hoje mesmo esqueci de vez essa idéia. É preciso pensar muito antes de sonhar em ser médico, enfermeiro ou seguir outra profissão que precise lidar com a vida das pessoas. Tudo bem que pensei em cursar fisioterapia, porém, o risco ronda sempre esses profissionais da área de saúde.
Ás quatro da tarde, uma cena mexeu comigo. Entre o Porto e o Farol da Barra, haviam aproximadamente trinta pessoas reunidas, o trânsito parado e os policiais agitados tentando manter a ordem. Ao lado, jovens turistas loiras choravam. No centro dos olhares, um rapaz cobria, abraçando, a metade do corpo de uma garota que chorava alto. Vi apenas uma perna branca com a carne exposta e um osso partido. Gelei, senti meu chiclete branco ficar azul e certa acidez penetrar minha língua.
Mais alto que o choro da garota, sentado no chão e recostado na parede, um homem gritava: “Não deixem ela morrer! Não deixem ela morrer!”. Era o motorista, seu ônibus havia atropelado a garota e a ambulância demorava a chegar.
Minha caminhada perdeu a graça. Corri dali para não começar a chorar e em seguida não desmaiar. Pois assim, duas pessoas precisariam ser atendidas. É preciso ter sangue frio para ver tudo aquilo e não se abalar. As minhas pernas tremem até agora, nem sei como cheguei em casa.
Deixe-me cá com o tal do jornalismo.

4 comentários:

Teka disse...

deixe-me cá tbm...

Camila Santos. disse...

'deixe-me cá com o tal do jornalismo'
já cheguei a essa conclusão e mudei de idéia tantas vezes..
adorei seu blog, Lu
beijinhos

Milena Palladino disse...

Qdo eu era criança eu pensava em ser médica. Mas na verdade eu só gostava da idéia de me vestir de branco. Troquei o sonho por jornalismo também, não me arrependo (mesmo sabendo que estão por vir situações como essa que se passou contigo e que teremos que cobrir os fatos sem embrulhar o estômago).
Mudando de pau à pica, amores ao contrário acontecem a todo momento, eu sei do que estou falando... hehehe. Um bjo!

Alexandro Gesner disse...

Eita... é hoje! rs

Fica então com o tal do jornalismo, pois também salvará vidas ao libertar mentes!
Somos muito mais que água e carbono, Lu. Não se esqueça disso.

Só uma consideração: como Enfermeiro, devo registrar que numa urgência/emergência nós também sentimos esse frio na espinha. A diferença é que aprendemos a modular o impacto causado pelo imprevisto e a canalizar as respostas. Mas nós nos abalamos, sim. :)